As intervenções para interrupção do tabagismo são efetivas em pacientes portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)?
AUTOR(ES)
Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul
FONTE
Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul
DATA DE PUBLICAÇÃO
12/06/2023
RESUMO
A interrupção do tabagismo é a medida de maior custo-efetividade para redução do risco de desenvolvimento de DPOC e, além disso, é o método mais importante na modificação do desfecho de pacientes já portadores da doença em qualquer estágio. Cabe ressaltar ainda que a interrupção do tabagismo trará benefícios não apenas ao paciente portador da doença, mas também aos seus familiares, os quais estão expostos ao tabaco de forma indireta.
A realização de grupos antitabagismo, aconselhamento individual e prescrição de medicamentos que auxiliem na interrupção do tabagismo são factíveis no nível de atenção primária à saúde e devem ser viabilizadas pelo gestor do SUS.
Dois ensaios clínicos randomizados evidenciaram que a combinação de intervenção psicossocial com tratamento farmacológico, para interrupção do tabagismo em pacientes portadores de DPOC, é superior ao não tratamento e a não intervenção psicossocial isolada ao se analisarem as taxas de abandono do tabagismo.
Os principais estudos que fundamentaram essas conclusões foram o estudo de Anthonisen (1), o qual comparou um grupo que recebeu intervenção psicossocial e farmacológica com um grupo que não recebeu nenhum tipo de intervenção e o estudo de Tashkin (20, o qual comparou um grupo que recebeu intervenção psicossocial e farmacológica com um grupo que recebeu intervenção psicossocial e placebo.
Não há evidência da efetividade de qualquer intervenção psicossocial isolada em pacientes com DPOC devido à ausência de número suficiente de estudos de alta qualidade.
Foram identificados 318 estudos dos quais 5 foram incluídos nesta revisão sistemática. A seguir descrevem-se sucintamente as principais características da amostra de cada um dos cinco estudos.
O estudo de Anthonisen avaliou indivíduos tabagistas motivados para cessar o tabagismo e com sinais de DPOC em estágio inicial na espirometria. Brandt estudou indivíduos tabagistas, com diagnóstico clínico de DPOC admitidos em uma unidade hospitalar cuja motivação para cessar o tabagismo era desconhecida. Crowley avaliou indivíduos tabagistas portadores de DPOC com VEF1/FVC < 70% em diferentes estágios de motivação para cessar o tabagismo. Pederson incluiu em sua amostra indivíduos tabagistas com DPOC admitidos em uma unidade hospitalar de pneumologia. A motivação para interromper o tabagismo não foi avaliada.
A amostra do estudo realizado por Tashkin era constituída de pacientes portadores de DPOC nos estágios I (FVE1/FVC<70% e FEV1> 50%) ou II (FVE1/FVC <70% e FEV1 35-49%), que haviam fumado 15 cigarros ou mais por dia no ano anterior ao estudo e que não haviam parado de fumar por mais de três meses naquele ano. Todos os indivíduos apresentavam-se no estágio de motivação para cessar o tabagismo.
O Quadro 1 apresenta os resultados das taxas de abstinência ao cigarro e os riscos relativos dos cinco estudos conforme sua descrição nos artigos.
[TABLE=11]
I = grupo intervenção C= grupo controle RR= Risco Relativo
a= abstinência sustentada no grupo intervenção (intervenção psicossocial+medicação+broncodilator) e no grupo controle (sem intervenção)
b= abstinência sustentada no grupo intervenção (intervenção psicossocial+medicação+placebo ao invés de broncodilatador) e no grupo controle (sem intervenção)
c= prevalência pontual. Comparação de diferentes intervenções psicossociais. Grupo intervenção (os médicos utilizaram a expressão “pulmão de fumante” na abordagem) e grupo controle (os médicos utilizaram os termos bronquite ou enfisema na abordagem)
d= prevalência pontual para todos os grupos somados (grupo intervenção e dois grupos controles).Todos os grupos receberam o mesmo medicamento e auto-ajuda, porém receberam diferentes tipos de aconselhamento individual. Não foi possível calcular RR.
O estudo de Anthonisen evidenciou que média estimada de volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) após uso de broncodilatador durante o primeiro ano de acompanhamento sofreu a seguinte modificação: no grupo experimental 1 (aconselhamento individual + aconselhamento em grupo + tratamento farmacológico + broncodilatador) houve aumento de 38,8 ml (DP 4,3 ml), no grupo experimental 2 (aconselhamento individual + aconselhamento em grupo + tratamento farmacológico + placebo ao invés de broncodilatador) houve aumento de 11,2 ml (DP 4,3ml) e no grupo controle (sem intervenção) houve diminuição de 34,4ml (DP 4,3ml). Todas as mudanças de VEF1 foram estatisticamente significativas (p<0,005 para cada comparação).
ASSUNTO(S)
promoção da saúde médico r95 doença pulmonar obstrutiva crônica abandono do uso de tabaco doença pulmonar obstrutiva crônica 1a – estudos de revisão sistemática / ou estudos ensaios clínicos randomizados (ecr)
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