As narrativas jornalísticas: memória e melodrama no folhetim contemporâneo

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O objetivo desta pesquisa é analisar as narrativas jornalísticas contemporâneas no jornal Folha de S.Paulo e a aproximação/comparação dessas matérias com o melodrama e a estrutura folhetinesca do final do século XIX e início do século XX. O jornal veicula notícias, não somente de forma referencial, mas semelhantes a narrativas seriadas. A mídia impressa não trabalha em tempo real como a televisão e isso dificulta ao leitor o acompanhamento do fato. Isso nos instiga a questionar por que as narrativas seriadas que surgiram com e nos folhetins e hoje são dominantes na mídia televisual, tornaram-se paradigma recodificado no jornalismo. Por que estas matérias permanecem na memória do leitor? Para buscar algumas respostas, faz-se necessário um estudo diacrônico do jornalismo e como a estrutura folhetinesca migrou para outras mídias, a televisão principalmente, pois, em alguns programas jornalísticos, a ênfase recai sobre o melodramático e o folhetinesco. Para retomar estes paradigmas os estudos de Marlyse Meyer, Thomasseau e Huppes são essenciais. Também Morin, Gruzinski, Laplantine, Amálio Pinheiro, Martín-Barbero e Iuri Lotman, por meio da semiótica da cultura, fundamentam esta pesquisa. O teórico russo parte do conceito de que texto é a unidade mínima da cultura e tem organização interna definida. O jornalismo, como texto da cultura, possui traços distintivos, mas ao mesclar códigos, hibridiza-se e gera novas mensagens a diferentes leitores. Lotman aponta três funções do texto cultural que corroboram com esta pesquisa. A comunicativa, marcada pela organização das leis da língua; a geradora de sentidos, que proporciona a dinâmica da cultura e quando os textos são traduzidos e transmitidos em outros sistemas sígnicos, transformam-se em mensagens recodificadas, e a terceira ligada à memória da cultura. Esta se relaciona com textos de outras épocas. Outros conceitos da semiótica da cultura como códigos culturais, sistemas modalizantes, fronteira vão fundamentar esta pesquisa. Halbwachs e Zumthor auxiliam a refletir sobre memória. Para o primeiro, a memória permite refazer, reconstruir experiências vivenciadas anteriormente, a memória individual está relacionada à memória coletiva. Para Zumthor, memória e esquecimento geram uma dinâmica recriadora. Isto possibilita a substituição de um texto por outros e esta transformação está associada à seleção e fixação de aspectos a serem mantidos. O jornalismo dramatiza muitos fatos, resgatando elementos da cultura que pareciam estar presentes somente em outras mídias o que o torna um código mestiço. A folhetinização da notícia é, assim, a tônica nos jornais contemporâneos e a narrativa jornalística, paradigma recodificado

ASSUNTO(S)

melodrama journalism narrativa (retorica) memoria cultura memory folhetins serial publication comunicacao folha de s. paulo (jornal) culture jornalismo melodrama

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