Contribuição ao estudo da frequencia e origem da hematuria em portadores de sindromes falcemicas

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1989

RESUMO

Apesar de a hematúria ser uma manifestação clínica importante da hemoglobina S, existe na literatura uma inconsistência de dados a respeito da sua real freqüência e da sua exata fisiopatogenia nas síndromes falcêmicas. O presente estudo teve por objetivo determinar a freqüência da hematúria e investigar a sua origem entre 50 pacientes falcêmicos adultos portadores de anemia falciforme (35 homozigotos SS), hemoglobinopatia SC (10 heterozigotos SC) e S/ ? -talassemia (5 heterozigotos S/ ? ?tal.). A presença de hematúria foi investigada através do exame sumário de urina (Urina I) e a sua origem glomerular ou não glomerular foi determinada pela pesquisa do dismorfismo eritrocitário. A ocorrência de hematúria foi investigada também dentre os antecedentes clínicos dos pacientes. A freqüência de hematúria encontrada na amostra total foi de 22% (25,7% dos SS; 20% dos SC e em nenhum dos S/ ? talassêmicos), tendo a sua origem glomerular sido constatada em 20% dos casos. Por outro lado, episódios antecedentes de hematúria foram verificados em 36% dos casos (31,4% dos pacientes com anemia falciforme, 50% dos heterozigotos Sc e em 2 dos pacientes com S/ ? -talassemia). Estas proporções não variaram com o sexo e a idade dos pacientes. Os resultados obtidos permitiram as seguintes conclusões: 1. A hematúria é uma manifestação clínica freqüente, tanto na anemia falciforme quanto na hemoglobinopatia SC, as duas síndromes falcêmicas de maior prevalência em populações brasileiras; 2.A ocorrência de hematúria não diferiu significativamente entre os pacientes portadores de anemia falciforme e da hemoglobinopatia SC. Já a incidência de hematúria entre os pacientes com anemia falciforme foi significativamente superior à encontrada por Ramalho colaboradores (1978) em indivíduos com o traço falciforme da mesma área geográfica, indicando que as sugestões existentes na literatura a respeito de a prevalência da hematúria ser maior entre os heterozigotos SC e AS que entre os homozigotos SS devem ser revistas; 3. A freqüência de hematúria foi ainda mais elevada quando se investigou os antecedentes clínicos dos portadores falcêmicos. A proporção de casos com hematúria verificada entre os antecedentes clínicos dos pacientes com anemia falciforme foi significativamente maior que a constatada por Hutz (1981) entro pacientes SS do Rio de Janeiro. Da mesma forma, a freqüência de antecedentes positivos de hematúria entre os pacientes se examinados foi significativamente superior àquela verificada por Gomes e Ramalho (1989) entre heterozigotos se da mesma área geográfica. Tais comparações, no entanto devem ser interpretadas com cautela, uma vez que a freqüência de antecedentes clínicos de hematúria depende do vários fatores, sobretudo do tempo de seguimento médico dos pacientes falcêmicos; 4. A hematúria não é uma alteração sugestiva das síndromes falcêmicas em nosso meio, uma vez que a sua incidência entre os pacientes com a hemoglobina S não diferiu significativamente da observada na amostra hospitalar geral; 5. As síndromes falcêmicas devem ter uma pequena importância relativa como causadoras de hematúria em nosso meio, devendo estar incluídas, juntamente com os tumores e outras causas, dentre os 8,5% casos de etiologia a esclarecer; 6. A origem glomerular da hematúria, embora significativa, não deve ser a mais freqüente nas síndromes falcêmicas. Desta forma, as lesões pós - glomerulares devem ocupar lugar de destaque na fisiopatogenia da hematúria pela hemoglobina S; 7. Seria recomendável a inclusão do exame sumário de urina e da pesquisa de dismorfismo eritrocitário no protocolo de seguimento falcêmicos, devido à sua fácil realização, baixo custo operacional e importante contribuição na orientação clínica destes pacientes

ASSUNTO(S)

anemia falciforme sindromes hemoglobina talassemia hemoglobinopatia

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