Crescimento foliar em arvores e crescimento inicial em plantulas de Kielmeyera coriacea

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1993

RESUMO

Neste trabalho foi investigado o crescimento lento que ocorre na parte aérea de Kielmevera coriacea, característica esta que parece ser comum em espécies perenes dos cerrados. O estudo foi realizado em plântulas mantidas em casa de vegetação (UNICAMP) e em câmara de crescimento (Universidade de Edinburgo), assim como em árvores no campo (região de cerrado no município de Itirapina, SP). Os dados de TCR obtidos em plântulas mantidas em condições de casa de vegetação apresentaram valores baixos. Aparentemente, as diferenças de TCR com outras espécies lenhosas, em intervalos de tempo semelhantes, dizem respeito à velocidade de crescimento que cada espécie apresenta durante o seu primeiro ano de vida. Os valores de TCR para plântulas de K. coriacea mantidas em casa de vegetação não são muito diferentes do que os obtidos para plântulas de outras espécies arbóreas do cerrado, tampouco para a mesma espécie, quando as plântulas foram mantidas em condições diferentes. O padrão das curvas de TCR em casa de vegetação e câmara de crescimento foi semelhante e com valores maiores que em plântulas crescendo no cerrado. A TAL mostrou padrões semelhantes em casa de vegetação e câmara de crescimento, sendo diferentes e com valores menores em plântulas de cerrado. Os padrões de RAF entre casa de vegetação e câmara de crescimento foram semelhantes e com valores maiores que em plântulas no cerrado. Diferenças no crescimento relativo poderiam ser explicadas através das condições de germinação e desenvolvimento inicial diferentes entre as plântulas mantidas em casa de vegetação e câmara de crescimento. Além disso, o teor de umidade da terra de cerrado nos sacos plásticos das plântulas foi diferente e poderia ser a responsável pela melhor resposta de crescimento das plântulas em casa de vegetação, quando comparadas com as plântulas no cerrado. Os valores superiores em TCR, TAL e RAF das plântulas mantidas em câmara de crescimento, em relação às que cresceram em casa de vegetação, no final dos dois experimentos, podem estar relacionados com a quantidade de nutrientes disponíveis no sistema de plantio utilizado para as plântulas em casa de vegetação. Em termos absolutos, o crescimento de plântulas em casa de vegetação mostrou que em comprimento, as raízes cresceram mais rapidamente que a parte aérea. O número de órgãos foliares visíveis foi baixo, comparado com o de plântulas mantidas em condições controladas. As plântulas em câmara de crescimento mostraram também ser mais eficientes como produtoras de área assimiladora, área esta que é distribuída entre um número maior de órgãos foliares produzidos, tornando-os visíveis. Os valores de extensibilidade das paredes celulares das duas primeiras folhas foram muito semelhantes quando feitas as comparações durante suas fases de crescimento. Isto parece indicar que as propriedades mecânicas das paredes celulares em crescimento seriam as mesmas nas duas folhas. Tanto a extensibilidade total como a extensibilidade plástica aumentaram inicialmente, declinando depois até o final da expansão da lâmina. A extensibilidade elástica foi praticamente constante nas duas folhas. Pelas dosagens de ABA feitas nas folhas 1 e 2 em plântulas de K. coriacea mantidas em câmara de crescimento observou-se um conteúdo elevado no 50 dia. Como o crescimento destas duas folhas parece ter ocorrido de maneira independente desse aumento, tal pico poderia ser um sinal enviado pelo sistema radicular para uma diminuição do crescimento da parte aérea. O ABA atuaria provavelmente como um mediador do crescimento entre a parte aérea e o sistema radicular, inibindo o crescimento da parte aérea. Primórdios foliares não se desenvolveram na mesma proporção em que foram sendo produzidos. Com isso, a lentidão do crescimento da parte aérea das plântulas seria conseqüência não só da baixa produção de primórdios foliares, mas também reforçado pelo atraso do desenvolvimento de tais primórdios, pelo menos em plântulas com até 60 dias de idade. O plastocrono entre os primórdios 1 e 2 destas plântulas foi de aproximadamente 21 dias. Este valor foi baixo comparado com outras espécies de cerrado. O crescimento em termos de comprimento dos ramos produzidos por árvores de K. coriacea no cerrado mostrou-se bastante lento pois a contribuição anual em comprimento dos laterais não passou de 14,O cm. Os padrões de brotamento e sincronia na perda de folhas parecem sofrer influência das variações sazonais do ambiente. A permanência de folhas parece estar relacionada com as baixas tempereturas que ocorrem no inicio da estação seca. Primórdios foliares em ramos de K. coriacea já estão presentes nos ápices caulinares vegetativos após o término de produção foliar do ano. Estes primórdios devem ser de catafilos, já que eles são os primeiros a serem produzidos. O aparecimento de folhas reduzidas no fim de um período de crescimento foliar é comum em muitos arbustos de regiões tropicais, sendo este fenômeno considerado como regressão foliar. Em ramos de K. coriacea podem-se distinguir dois processos distintos durante o crescimento das últimas folhas N: o surgimento de brácteas em ramos induzidos para a floração e o aparecimento de folhas com regressão foliar em ramos não induzidos. Em árvores de K. coriacea, a queda da maioria das folhas B, bem como a interrupção abrupta no crescimento das folhas B remanescentes, parecem indicar que existe uma relação nutricional envolvida na interrupção do crescimento meristemático, como parece ocorrer em plantas das savanas neotropicais. O período de brotamento normal dos ramos laterais de K. coriacea foi ao redor de 50 dias e as folhas N, concluíram o seu crescimento entre 30 e 85 dias. Elas permanecem fotossinteticamente ativas por um período longo, em torno de 8 a 9 meses. A espécie pode ser definida como intermediária entre brevidecídua e verdadeiramente decidua. As plantas adultas de K. coriacea tem folhas grandes e podem ser consideradas como sendo escleromorfas através dos resultados da razão área foliar/peso. Esse escleromorfismo foliar estaria relacionado com deficiências minerais. K. coriacea possui estômatos em ambas as faces das folhas N, o que indicaria que esta espécie não tem restrição à perda de água, ou, em última análise, para a fotossíntese. O número de estômatos das folhas N foi superior ao observado para plântulas desta espécie. Os níveis de açúcares solúveis em folhas de K. coriacea realmente aumentaram somente perto da senescência foliar. Já no período em que as folhas N começaram a cair, o conteúdo de açúcares diminuiu bastante. Os valores da taxa fotossintética das folhas de K.coriacea foram baixos, quando comparados com os dados de plantas C3, porém, ainda dentro da faixa observada para outras de regiões tropicais e temperadas. Estes foram também semelhantes aos encontrados em espécies de cerrado e savanas neotropicais. As folhas de K. coriacea mostraram variações no conteúdo de clorofila entre os meses estudados. Altos níveis foram observados durante a expansão foliar e uma queda pôde ser vista apenas um pouco antes da senescência; o conteúdo de clorofila, porém, é praticamente estável ao longo da vida das folhas. Podemos dizer que K. coriacea é uma espécie que não possui limitações para a realização da fotossíntese, ou, pelo menos para a captação de C02, e que, pelo menos aparentemente, os carboidratos produzidos não são estocados nas folhas. Com isso, os fotoassimilados seriam transportados e estocados nos xilopódios, como acontece em plântulas desta espécie ou em outras espécies dos cerrados. Os fotoassimilados poderiam ainda contribuir no crescimento secundário das plantas, em épocas fora do brotamento e crescimento foliar

ASSUNTO(S)

morfologia vegetal cerrados fisiologia vegetal flora dos cerrados

Documentos Relacionados