Estudo do uso de plantas medicinais e/ou produtos a base de plantas medicinais como tratamento complementar, por pacientes atendidos no Centro de Pesquisas Oncológicas - CEPON/SC

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Os avanços tecnológicos permitiram um maior conhecimento da fisiopatologia dos cânceres e o desenvolvimento de medicamentos mais eficazes, contribuindo para o aumento da sobrevida e da qualidade de vida dos indivíduos com neoplasias. De acordo com a literatura internacional, mesmo com os avanços significativos nesta área, muitos indivíduos utilizam terapias alternativas e/ou complementares, dentre as quais a fitoterapia, em associação com os medicamentos convencionais. Alguns estudos indicam que as plantas medicinais (PM) e/ou produtos à base de plantas medicinais (PPM) podem provocar interações importantes com os medicamentos, especialmente através do sistema enzimático CYP450 e a bomba de efluxo P-gp. Como os antineoplásicos apresentam uma estreita faixa terapêutica, estas interações podem promover sérias implicações clínicas. O comportamento de aderência ao tratamento convencional é outro fator que pode influenciar a resposta terapêutica. O objetivo deste estudo foi identificar o perfil sócio-demográfico-cultural dos indivíduos portadores de neoplasias, identificar as PM e/ou PPM utilizadas, sua freqüência e padrão de uso em associação com medicamentos antineoplásicos e/ou suportivos, avaliar as potenciais interações medicamentosas decorrentes da referida associação e o comportamento de aderência ao tratamento pelos indivíduos portadores de neoplasias, atendidos no Centro de Pesquisas Oncológicas de Santa Catarina. Trata-se de um estudo descritivo, cuja população-alvo é formada por voluntários adultos com neoplasias. Para ser incluído na amostra, os indivíduos deveriam estar em uso de medicamento antineoplásico e/ou de suporte. As entrevistas empregaram um roteiro estruturado, previamente estabelecido e testado, e foram realizadas em local privativo por duas bolsistas de Iniciação Científica (CNPq). Utilizou-se o banco de dados SPSS, versão 10.0, para a alimentação e análise dos dados. As potenciais interações foram identificadas empregando-se os dados da literatura científica. Para a avaliação do comportamento de aderência do paciente em relação ao uso dos medicamentos, foi empregada a metodologia clássica de Morisky, Green e Levine (1986). Foram incluídos 235 indivíduos e destes, 127 (54%) usavam PM e/ou PPM no momento da entrevista. A média de idade foi de 50 anos; com predomínio do sexo feminino (67,7%). A prevalência de uso de PM e/ou PPM foi duas vezes maior na faixa etária entre 44 e 60 anos, em ambos os sexos (P=0,001). As PM mais utilizadas foram babosa (Aloe spp.), camomila (Matricaria recutita) e graviola (Annona muricata). O ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa) foi o principal PPM. A razão de uso mais freqüente foi a expectativa da cura do câncer (19%) e a grande maioria (76,4%) não informou ao seu oncologista sobre esta prática. Foram identificadas 163 diferentes potenciais interações, das quais 48 envolvendo medicamento-planta e sete envolvendo planta-planta. Em relação ao comportamento de aderência ao tratamento, 56,8% não tinham aderência total; 41% tinham não-aderência não intencional; e 40,3% não-aderência intencional. A maioria das plantas medicinais relatados não tem estudos que forneçam evidências suficientes para o seu uso seguro e efetivo. Este é um estudo inédito no país, onde os dados obtidos, aliados aos da literatura internacional, poderão fornecer subsídios que permitam reflexões e ações em prol de um plano terapêutico racional na área da oncologia.

ASSUNTO(S)

oncologia fitoterapia farmacia cancer - tratamento - avaliação agentes antineoplásicos plantas medicinais

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