Histórias em múltiplos fios: o ensino de manualidades entre mulheres negras em Rio Grande (RS Brasil) e Capitán Bermúdez (Sta. Fe Argentina) (re)inventando pedagogias da não-formalidade ou das tramas complexas

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

25/02/2010

RESUMO

Esta tese trata de uma pesquisa sobre o ensino e a aprendizagem de trabalhos manuais com mulheres negras em Rio Grande (RS Brasil) e Capitán Bermúdez (Santa Fe Argentina). Tal pesquisa foi elaborada a partir da temática Pedagogias da não-formalidade ou das tramas complexas (re)inventadas por mulheres negras através do ensino e da aprendizagem de trabalhos manuais e a busca por emancipação. Foram promovidos encontros, no Brasil, município de Rio Grande, com mulheres pertencentes ao grupo étnico afro possuidor de experiências em profissões destinadas historicamente às mulheres e, em particular, às mulheres negras: o trabalho doméstico (domésticas, lavadeiras, cozinheiras, etc.), o cuidado de crianças pequenas e o embelezamento capilar vinculado às tranças. Também participaram desta investigação, na Argentina, município de Capitán Bermúdez, mulheres que, mesmo não expressando o grupo étnico ao qual pertencem, apresentam fenotipicamente indícios de serem descendentes de indígenas argentinas, atuantes nas mesmas profissões. Num primeiro momento pode parecer equivocado ou estranho o destaque dado à palavra negras, porém este uso foi adotado, a fim de apresentar dois significados do termo (em português e castellano). No Brasil, são mulheres negras aquelas pertencentes ao grupo étnico afro, como já expressado. Na Argentina, negras podem ser chamadas todas as mulheres que vivem na periferia com baixa renda e, etnicamente, possuem las cabecitas negras. Nos dois contextos foi possível perceber que aprender e ensinar trabalhos manuais pode ser compreendido como um destes caminhos trilhados pelas mulheres para concretizar a valorização das expressões de sua corporeidade, seus processos emancipatórios, aprimoramento do seu senso estético e sensibilidade, além da promoção de saúde mental individual e coletiva. A fim de obter uma melhor aproximação com estes grupos de manualidades (outro termo que aproxima vocábulos comuns aos dois países) foram realizadas observações participantes e grupos de discussão nos dois países, bem como a participação efetiva da pesquisadora como aprendente. Para conhecer como se consolidam as pedagogias da não-formalidade ou das tramas complexas, foram também entrevistadas duas professoras de manualidades: Niara (a brasileira) e Naara (a argentina). Buscou-se dialogar, para além do tema ensino de manualidades, vislumbrando o cotidiano de mulheres artesãs. Portanto, procurou-se dar visibilidade a formas de ensinar e aprender protagonizadas por pessoas sem formação acadêmica no campo educacional e, no caso desta pesquisa, com poucos anos de escolarização. Através do campo dos estudos feministas, foram discutidos os lugares sociais que ainda hoje são destinados e ocupados por mulheres e suas possibilidades de emancipação. Chegou-se a conclusão de que as mulheres, sujeitos desta pesquisa, buscaram no trabalho manual uma estratégia de mudança, passando, com isso, a reinventar/ressignificar um lugar, historicamente cativeiro que remete ao trabalho doméstico, o qual, nessa experiência, se mostrou como possibilidade para os processos emancipatórios que desejavam.

ASSUNTO(S)

educação pedagogias da não-formalidade mulheres negras trabalhos manuais education non-formality pedagogy black women handicrafts educacao

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