Intervenção cognitivo-comportamental e comportamento de adesão ao tratamento anti-retroviral em pessoas vivendo com HIV/AIDS

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

A aids tem sido responsável por esforços concentrados de pesquisa e atenção em saúde. Tais iniciativas conseguiram grandes avanços nas possibilidades terapêuticas, que vieram acompanhadas de novas exigências para as pessoas soropositivas em tratamento, como a necessidade de níveis elevados de adesão, da ordem de 95% das doses prescritas. O presente estudo teve como objetivo descrever e avaliar os efeitos de intervenção cognitivo-comportamental em grupo sobre o comportamento de adesão ao tratamento anti-retroviral de pessoas soropositivas, com dificuldades de adesão, em três momentos: antes da intervenção (linha de base I), ao término da realização do grupo (linha de base II) e três meses após a intervenção (linha de base III). Foram comparados o comportamento de adesão ao tratamento anti-retroviral e os resultados de variáveis psicológicas (estratégias de enfrentamento e expectativa de auto-eficácia para seguir prescrição anti-retroviral) e biológicas (CD4 e carga viral). A intervenção consistiu de cinco encontros, um por semana, com duração de duas horas cada. O comportamento de adesão foi avaliado pelo percentual de perda auto-relatada de doses dos medicamentos anti-retrovirais na última semana e/ou no último mês, considerado insatisfatório diante de perda superior a 5% das doses prescritas. Roteiros de entrevista e escalas padronizadas para a população brasileira foram usados na coleta de dados e na avaliação das linhas de base. Duas pessoas foram submetidas à intervenção (P1 e P2); e um participante (P3), que não aderiu ao grupo, funcionou como sujeito controle e foi entrevistado nas linhas de base I e III. Nas linhas de base II e III, P1 e P2 relataram níveis de adesão superiores a 95% das doses prescritas. Quanto às variáveis psicológicas, P1 apresentou, na terceira avaliação, aumento significativo nos escores de auto-eficácia (t=4,56; p<0,001) e do enfrentamento focalizado no problema (t=4,46; p<0,001), ao lado de níveis adequados das demais estratégias de enfrentamento. P2 também apresentou aumento significativo no escore de auto-eficácia (t=5,26; p<0,001), e do enfrentamento focalizado no problema (t=3,85; p=0,002). P3 manteve a conduta de não adesão e não apresentou mudança na medida de auto-eficácia na linha de base III; no entanto, observou-se aumento nos escores de todas as modalidades de enfrentamento. Para os indicadores de CD4 e carga viral, percebeu-se melhora nos indicadores de P1, um quadro grave de imunodeficiência para P2, sem melhora durante o estudo, e piora nos indicadores de P3. Os resultados encontrados indicam a possibilidade de aplicação satisfatória da intervenção em grupo, de base cognitivo-comportamental, e dos instrumentos utilizados no estudo, para o atendimento de pessoas HIV+ com dificuldades de adesão. O reduzido número de participantes, bem como o emprego do auto-relato como medida principal da adesão, levam à necessidade de parcimônia quanto às conclusões acerca da eficácia da intervenção e à generalização dos resultados desse trabalho.

ASSUNTO(S)

psicologia cognitiva psicoterapia aids (doença) - tratamento psicologia

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