Materna/estrangeira : o que Freud fez da lingua
AUTOR(ES)
Maria Rita Salzano Moraes
DATA DE PUBLICAÇÃO
1999
RESUMO
Este trabalho é uma reflexão sobre a possibilidade de se pensar a relação Língua Materna - Língua Estrangeira a partir da constituição do sujeito por linguagem. Isto supõe que se faça uma diferenciação entre sujeito e Eu, o que é possível, se se toma como base para essa reflexão, a hipótese freudiana do inconsciente. Essa hipótese contempla, na sua formulação, uma concepção diferenciada de memória, em que a inscrição da linguagem é um processo de escrita/leitura dos traços mnêmicos, cujo registro simultaneo em sistemas diversos, não permite sua recuperação imediata. A possibilidade de recuperação dos traços mnêmicos passa pelo necessário caminho da expressão verbal, da leitura, de maneira que, se, de acordo com a hipótese de Freud, a memória é, em grande parte, inconsciente, abre-se um outro lugar de discussão sobre o estatuto. da dita Língua Materna: ela não representa, para o sujeito, sua segurança, dado que aí não pode dizer tudo. Fica suspensa a condição de a Língua Materna ser o veículo da certeza do sujeito. Nessa hipótese está implícita, portanto, uma divisão entre língua e linguagem, sendo a língua o lugar de apresentação da certeza do Eu, mas, simultaneamente, da possibilidade de manifestação da linguagem inconsciente, daquilo que fala no Eu, sem seu consentimento. Como conseqüência dessa hipótese, acrescenta-se à discussão, o estranhamento na língua como elemento organizador que permite deslocar, na relação Língua Materna - Língua Estrangeira, a questão da alteridade. Língua Estrangeira perde o estatuto de estranha, porque diferente, para ser questionada a partir do estranhamento próprio à Língua Materna. Se a hipótese sobre o inconsciente foi construída porque Freud ouviu falhas, hesitações e esquecimentos como manifestações de um funcionamento desconhecido pelo Eu, devemos destacar, sobretudo, que Freud não concebe seus aparelhos de memória e de linguagem senão enquanto sistemas de escrita. Isto não é sem importância para este trabalho, uma vez que é essa concepção de linguagem enquanto sistema de escrita/leitura, que nos dá os elementos para questionar a condição de familiaridade da Língua Materna e a de estrangeiridade da Língua Estrangeira.
ASSUNTO(S)
linguagem inconsciente escrita
ACESSO AO ARTIGO
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000202130Documentos Relacionados
- A incidencia dos sons da lingua materna/estrangeira na subjetividade
- Discursividade de uma lingua "estrangeira" que ja "foi materna" : o alemão de Santa Catarina
- Coesão e coerência na produção escrita na língua estrangeira : uma investigação da influência da língua materna
- O SUJEITO EM MOVIMENTO: PROCESSOS DE IDENTIFICAÇÃO, LÍNGUA MATERNA E LÍNGUA ESTRANGEIRA
- O jornal televisivo e o ensino/aprendizagem integrado de português língua materna e francês língua estrangeira