Nas raias de Mato Grosso : o discurso de constituição da fronteira

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2000

RESUMO

A descoberta dos textos constituidores dos sentidos pelos quais o Estado de Mato Grosso vai significar para o Brasil à época da sua descoberta, nos revela um arquivo rico de informações sobre a terra, a gente e, principalmente, a correspondência produzida no período de formação de uma das maiores fronteiras geográficas do país, balizada pelos rios Guaporé, tributário do Amazonas e Paraguai, o mais importante formador da planície inundável do pantanal, no interior da América do Sul. Essa documentação composta de Cartas e Instruções possui uma particularidade: são textos constitutivos de uma relação política e jurídico-administrativa estabelecida entre a Coroa Portuguesa e o Mato grosso colonial. As Cartas, escritas por D. Antonio Rolim de Moura e D. Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, respectivamente, primeiro e quarto capitães-generais da Províncias de Mato Grosso, no século XVIII, estão relacionadas às Instruções emanadas da metrópole e se configuram como relatórios. Têm cunho oficial, mas são também narrativas do cotidiano político da Província e descrições detalhadas, comentários da administração e análise científica dos dados coletados. As Instruções se configuram como o instrumento legal da conquista, disciplinando a matéria encaminhada à colônia e impondo o movimento de sentidos produzidos sobre a fronteira. Funcionam como elo de manutenção de uma unidade política. Retomam pré-construídos em outro lugar e sinalizam ações futuras numa única direção de sentidos. Como procedimento jurídico-administrativo traçam os preceitos para manutenção do poder que é transferido, na colônia, aos governantes que dão acesso à voz do colonizador. São discursos passíveis de outras leituras que não só a que os situa como documentos da história, mas na ótica de como a discursividade vai construindo sentidos que constituem países, regiões e fronteiras, problematizando as maneiras de ler para além das evidências. Desse modo, esses documentos fazem a nossa história com as suas (deles) letras, num abrangente processo de apropriação. Por esse discurso construído é que entramos na história para compreender os sentidos trazidos pelos acontecimentos, desatando as amarras dos estereótipos assimilados ao longo do tempo. Alguns questionamentos nortearam a investigação: a) A relação das Cartas com as Instruções determinam o respeito à fronteira, construindo os limites determinados? b) Se a correspondência oficial não assegurava o respeito à fronteira, que mecanismos foram utilizados para configurar/desenhar o traçado oficial do país? c) Seriam os processos de nomeação responsáveis pela fixação da fronteira? Tais questões se colocam na posição teórica da Análise de Discurso na qual se inscreve o meu trabalho, tendo como eixo central os espaços polêmicos das maneiras de ler o arquivo proposto por Michel Pêcheux

ASSUNTO(S)

historia - sec. xviii correspondencia oficial analise do discurso

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