O Impacto prognóstico dos sintomas depressivos detectados na manifestação do infarto agudo do miocárdio em uma coorte de pacientes submetidos a cuidados intensivos de prevenção cardiovascular após o evento / The prognostic impact of depressive symptoms after acute myocardial infarction in a cohort of patients maintained under intensive cardiovascular prevention care during 12 months after the event

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Fundamentos: Um substancial volume de evidências associa a presença de sintomas depressivos ao aumento do risco cardiovascular em pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio (IAM). Entretanto, a força de associação estimada pela razão de chances varia amplamente entre os estudos e, em alguns desses, essa associação não atingiu significância estatística. Embora não esteja clara a razão para a divergência de resultados, é hipoteticamente plausível que a variação da qualidade dos cuidados de prevenção cardiovascular recebidos modifique a natureza dessa associação. Além disso, é também possível que limitações na diferenciação entre sintomas somáticos do IAM ou da depressão possam enviesar a estimativa da força de associação. Objetivos: O presente estudo tem como objetivos: (i) Avaliar o impacto da presença de sintomas depressivos no risco do desfecho combinado: morte intra-hospitalar, morte súbita e IAM fatal ou não fatal, em pacientes com IAM com supradesnivelamento do segmento ST submetidos a cuidados intensivos de prevenção cardiovascular; (ii) Avaliar a associação entre os sintomas somáticos investigados pelo BDI-II e as características clínicas ou anatômicas do IAM ou o risco do desfecho combinado; (iii) Avaliar a existência de associação entre os sintomas depressivos e a resposta inflamatória do IAM ou fatores de risco cardiovasculares; (iv) Investigar a existência de associação independente entre cada um dos 21 sintomas depressivos estimados pelo BDI-II e o risco dos desfechos combinados. Casuística e métodos: Foram admitidos 245 pacientes nas primeiras 24 horas após IAM com supradesnivelamento do segmento ST. Todos pacientes foram submetidos à avaliação clínica, antropométrica e de sintomatologia depressiva pelo inventário de depressão de Beck (BDI-II) nas primeiras 24 horas da admissão. A evolução foi acompanhada pelos investigadores na fase intra-hospitalar e até dois anos após o evento inicial. Amostras de sangue foram colhidas na admissão e no quinto dia após IAM em todos os pacientes arrolados. Resultados: Encontramos uma tendência à recorrência de eventos cardiovasculares, morte intra-hospitalar, morte súbita e IAM fatal ou não fatal, nos pacientes com BDI-II superior a 10 ou ao percentil 90. Entretanto, a associação não atingiu significância estatística (p=0,63). Na regressão multivariada de Cox a associação entre cada um dos sintomas depressivos e o desfecho combinado, nos dois anos de acompanhamento clínico, foram independentemente associados aos desfechos a idade (p=0,004) e os sintomas depressivos pessimismo (p=0,019) e perda do prazer (p=0,035). Os sintomas perda de auto-estima (p=0,09) e perda do interesse (p=0,07) tiveram uma tendência à associação significativa. Entre os fatores de risco para a DAC, somente hipertensão arterial sistêmica (HAS) foi estatisticamente associada à intensidade dos sintomas depressivos estimada pelo BDI-II (p=0,006). A gravidade da DAC (p=0,98) e a presença de trombos intracoronários (p=1,0) não se relacionaram à gravidade dos sintomas. Também não houve associação estatisticamente significante entre a intensidade dos sintomas e a atividade inflamatória sistêmica, estimada pela PCR plasmática, na admissão hospitalar (p= 0,65) ou seu aumento durante o IAM (p=0,9). A intensidade dos sintomas não se associou significativamente à extensão da massa infartada ou mesmo à gravidade clínica da manifestação do IAM (p>0,05). Encontramos associação independente entre HAS e presença de fadiga (p= 0,016) e alterações do sono (p=0,007) e associação de síndrome metabólica e sentimentos de punição (p= 0,006). Indivíduos com baixa escolaridade apresentaram mais freqüentemente perda da auto-estima (p=0,003), sentimentos de punição (p=0,018), irritabilidade (p=0,028) e perda do prazer (p=0,008). Indivíduos com baixa renda apresentaram autocrítica exacerbada (p=0,007) e sentimento de inutilidade (p=0,04). Conclusões: Em pacientes que recebem cuidados clínicos intensivos após IAM, a intensidade dos sintomas depressivos estimada pelo BDI-II não prediz a recorrência de eventos coronarianos agudos. No entanto, mesmo em condições ideais de prevenção cardiovascular, indivíduos que apresentam os sintomas depressivos pessimismo e perda do prazer têm maior risco de morte súbita ou recorrência de IAM. Parte da ligação causal entre a presença de sintomas depressivos e o risco de IAM pode decorrer da associação desses sintomas com fatores de risco para DAC como HAS, síndrome metabólica e fatores de risco psicossociais.

ASSUNTO(S)

depressive symptoms medicina cardiovascular risk infarto agudo do miocárdio sintomas depressivos risco cardiovascular myocardial infarction

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