Padrões de utilização de Crotalaria ssp. (Leguminosae, Papilionoideae, Crotalarieae) por larvas de Utetheisa ornatrix (Lepidotera : Arctiidae)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2001

RESUMO

As larvas de Utetheisa ornatrix (Lepidoptera: Arctiidae) são encontradas principalmente dentro das vagens verdes de Crotalaria ssp. (Leguminosae, Papilionoideae), onde se alimentam das sementes.As plantas de Crotalaria spp. possuem alcalóides pirrolizidínicos (APs) em seus tecidos, sendo que as maiores concentrações são verificadas nas sementes. Essas substâncias são seqüestradas pelas larvas, protegendo-as contra predadores. Os objetivos desse estudo foram investigar que pressões seletivas estariam influenciando o uso diferencial de duas espécies de Crotalaria pela mariposa U. ornatrix e descobrir quais as pressões seletivas que levaram à utilização de sementes dentro de vagens verdes pela larva. O uso de duas espécies de Crotalaria comumente encontradas na região de Campinas, SP, Brasil (C. lanceolata e C. pallida) por larvas de U. ornatrix foi observados na natureza por 1 ano. Em cada coleta era observada a presença das larvas nas diferentes partes da planta. Algumas medidas de folhas (área, densidade de tricomas e dureza) e vagens (tamanho) de C. paIlida e C. lanceolata foram tomadas com o objetivo de verificar se o uso diferencial dessas espécies de crotalárias por U. ornatrix era influenciado por características morfológicas das plantas. O desempenho (porcentagem de sobrevivência larval, tempo de desenvolvimento larval, peso das pupas e fecundidade das fêmeas) de U. ornatrix foi analisado em diferentes partes das duas crotalárias (folhas, sementes verdes, sementes maduras, vagens maduras com as sementes, vagens maduras sem as sementes, vagens verdes fechadas com as sementes e vagens verdes abertas com as sementes). Análises quantitativas e qualitativas dos APs, e quantitativas de água e proteínas foram feitas nas diferentes partes das duas espécies de plantas. A concentração e os tipos de APs presentes em larvas, pupas e adultos de U.ornatrix criados em folhas e sementes verdes foram determinados. Experimentos de predação foram conduzidos para verificar o papel dos APs seqüestrados de folhas e sementes verdes na proteção de larvas e adultos usando 3 modelos de predadores, formigas, pintinhos e aranhas. Além disso, foi conduzido um experimento com gaiola de exclusão no campo para testar se as vagens conferiam uma proteção mecânica às larvas. Sessenta e seis larvas de U. ornatrix foram encontradas em 72 indivíduos de C. pallida, enquanto apenas 3 larvas foram vistas em C. lanceolata. As larvas foram encontradas predominantemente no interior das vagens verdes (97% e 66% de ocorrência em C. paIlida e C. lanceolata, respectivamente). As vagens de C. pallida são significativamente maiores tanto em comprimento quanto em largura que as de C. lanceolata. Além disso, as folhas de C. pallida apresentam maior densidade de tricomas, maior área e menor dureza que as de C. lanceolata. Todas as larvas de U. ornatrix morreram quando criadas em sementes maduras e vagens maduras com sementes (tanto abertas quanto fechadas) de ambas as espécies de plantas. As maiores porcentagens de sobrevivência foram observadas nas larvas alimentadas com vagens verdes abertas com sementes e com folhas de C. pallida. Em C. lanceolata, as porcentagens de sobrevivência foram similares nos tratamentos sementes verdes, vagens verdes abertas com sementes e folhas. As larvas criadas em folhas apresentaram um tempo de desenvolvimento significativamente maior do que as submetidas ao tratamento sementes verdes em ambas as espécies. As larvas criadas em folhas de C. lanceolata resultaram em pupas fêmeas significativamente mais leves em comparação com os demais tratamentos. A fecundidade das fêmeas não diferiu estatisticamente entre todos os tratamentos de ambas as espécies. Todos os estágios de U. ornatrix que se alimentaram de sementes verdes apresentaram significativamente mais APs que quando alimentados em folhas em ambas as espécies de plantas. Os bioensaios com os adultos utilizando aranhas como predadores mostrou diferença significativa nas taxas de predação. Os adultos resultantes de criações com sementes verdes foram mais freqüentemente rejeitados pela aranha do que aqueles oriundos de larvas criadas em folhas. Entretanto, os bioensaios com larvas utilizando formigas e pintinhos mostraram que a dieta da larva (folhas ou sementes) não confere proteção diferencial. O experimento com gaiola de exclusão mostrou que a proteção mecânica conferi da pelas vagens foi semelhante àquela conferi da pelas gaiolas de exclusão. A escolha de sementes verdes de Grata/afia por U. ornatrix provavelmente está relacionada à proteção mecânica das vagens contra inimigos naturais. A proteção química também pareceu ser importante no estágio adulto da mariposa

ASSUNTO(S)

crotalaria alcaloides relação inseto-planta

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