Poesia negra brasileira: o desmantelar das grilhetas da Sciencia do Século XIX

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O presente estudo enfoca a representação das relações raciais na poesia negra brasileira. Assim, elegemos como objeto de investigação exemplos da produção poética de dois momentos históricos desta literatura: o primeiro abrange o período que convencionalmente foi denominado e classificado como modernismo brasileiro. O segundo abarca a produção poética da década de 1950 até a contemporaneidade, que tratamos como produções literárias do modernismo tardio. Estas produções poéticas foram selecionadas para nosso corpus com o intuito de flagrar, em suas simbologias e alegorias, a representação mimética das diferentes formas através das quais se manifestam atitudes preconceituosas e estereotipadas, marcadas pelo racismo, e sedimentadas no imaginário coletivo do povo brasileiro, com base nas teorias raciais do século XIX. Com este intuito, não nos furtaremos de revisar a história dos mitos raciais brasileiros, o alicerce ideológico e cultural sobre o qual tais mitos repousam, a historiografia da poesia negra brasileira, o processo de elaboração de sua mimesis e o projeto literário que tal poesia implementou no país. Nossa escolha pela poesia negra brasileira para nosso corpus se deve, basicamente à paixão pela poesia em geral, e pela poesia negra, em particular; também optamos por tal objeto de pesquisa por uma opção de política pessoal e social pautada na luta contra o racismo e suas expressões. Acreditamos, também, poder colaborar com discussões e perspectivas sobre a poesia negra das quais discordamos, mesmo sendo freqüentes no universo acadêmico, o que interpretamos como uma oportunidade ou um convite à analise das tensões encontradas nesta esfera institucional. Além disso, nossa pesquisa busca exatamente desconstruir a idéia de que criar narrativas ou poéticas permeadas por fios de revolta e denúncia faria com que tais textos perdessem sua literariedade. Ao contrário, o tom muitas vezes político da poesia negra, a nosso ver, faz parte de sua estrutura, de seu tema e da tessitura desta poética. Mesmo que alguns críticos literários defendam que tal tom político, bem como o discurso de vitimização do negro teria sido responsável por uma redução no número de leitores de tal poesia, acreditamos que estas afirmativas devem ser revistas e reexaminadas dentro do contexto nacional. Desta forma, procedemos à análise dos textos literários utilizando um suporte teórico-metodológico interdisciplinar que nos permite desenvolver uma leitura que aponta para a relação existente entre o fato literário e o contexto sócio-cultural que o informa. Assim, além da teoria literária, nos articularemos com outros discursos das ciências sociais, de modo especial com o discurso histórico, o sociológico e o antropológico, sem perder de foco a poesia a ser analisada. Buscamos, enfim, ao longo de nosso estudo trilhar o caminho apontado por Antonio Candido (1985), quando este defende que os fatores sociais devem ser observados como elementos que desempenham o papel de formadores da estrutura da obra. Portanto, poesia e sociedade se apresentam como elementos inseparáveis do estudo que ora propomos, que se propõe a libertar a poesia negra brasileira de leituras reducionistas ou descontextualizadas responsáveis pela manutenção de um racismo verificável nos cânones literários e na crítica nacional.

ASSUNTO(S)

literary critic poesia negra teorias raciais black poetry crítica literária racial theories letras

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