Ramkokamekra-Canela : dominação e resistencia de um povo Timbira no centroeste maranhense

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2002

RESUMO

A formação histórica do atual Estado do Maranhão apresenta passagens insuficientemente explicadas, como a que se refere à sua consolidação territorial e à dominação das populações indígenas. O avanço das fronteiras econômicas coloniais pelos vales dos rios centrais da Capitania, especialmente o ltapecuru e o Mearim - sob o impulso de uma economia agro-exportadora, e de uma frente de expansão pastoril, que atingiria, entre meados do século XVIII e início do século XIX, o território formado por campos e cerrados entre os rios Parnaíba e Tocantins - confrontaria com cerca de quinze grupos étnicos autônomos conhecidos genericamente como "Timbiras", os quais exerceram longa resistência à sujeição territorial e étnica de seus grupos locais. No período das guerras de conquista contra as "bandeiras" vindas, sobretudo, de Caxias e Pastos Bons, os diversos grupos timbira desenvolveram formas de enfrentamento e convivência junto aos agentes coloniais - comandantes de bandeiras e de milícias, lavradores e criadores de gado vacum, dentre outros - com vistas à preservação de suas unidades étnicas e especificidades culturais. Esse estudo focaliza os processos de confronto, como guerras e alianças, que levaram vários grupos timbira à extinção, e outros à dominação pelos agentes da sociedade luso-brasileira colonial. A seguir, descreve a consolidação desse processo, através das políticas tutelares, e os modos pelos quais os grupos timbira do alto Grajaú e Mearim, especialmente aqueles que deram origem aos Ramkokamekra-Canela, fizeram valer as suas demandas junto à sociedade neocolonial no século XIX. Num terceiro momento, aponta para a intensificação dos conflitos e antagonismos existentes entre os Canela e os criadores do sertão pastoril, decorrentes da situação histórica estabelecida. A presença do Estado, através da ação indigenista do SPI, se expressaria nas tentativas em compatibilizar a "proteção" e o controle dos Ramkokamekra-Canela e de outros grupos indígenas, e os interesses da sociedade regional. Finalmente, o estudo demonstra que, ao contrário da aceitação passiva aos processos de dominação a que foram submetidos, os Ramkokamekra-Canela, assim como outros grupos timbira, desenvolveram estratégias de continuidade e afirmação étnica. Através de um movimento sócio-religioso baseado em elementos culturais próprios, combinados com práticas religiosas sertanejas, os Canela expressaram a sua compreensão do processo de dominação em que foram inseridos, e realizaram ações concretas para a reversão desse processo, colocando-se, portanto, como agentes da sua própria história

ASSUNTO(S)

indios da america do sul - brasil - historia indios canela - politica governamental indios timbira

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