Soropositividade feminina e atendimento oferecido: articulando sentidos / Seropositive women and care offered: articulating meanings

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Este estudo teve como objetivo compreender o processo de construção de sentidos sobre a soropositividade feminina e sobre o atendimento oferecido a estas mulheres por meio da descrição dos repertórios interpretativos utilizados em situação de entrevista por profissionais de uma equipe de saúde. Foram entrevistados 14 profissionais, de diversas especialidades, que integram esta equipe de saúde em uma cidade do Triângulo Mineiro. Na análise do corpus foram utilizadas as propostas de análise do discurso influenciadas pela perspectiva construcionista social que envolveu a transcrição íntegra das entrevistas e leitura cuidadosa do material, possibilitando a nomeação dos repertórios. Durante a análise observou-se que os sentidos sobre a soropositividade feminina influenciam, significativamente, as descrições de atendimento oferecido, reconhecendo-se uma articulação de sentidos. Por isso, realizou-se a divisão da análise dos repertórios nomeados em dois momentos: (1) em que se conversa sobre a mulher portadora, sua infecção e vivência da doença e (2) em que se conversa sobre o atendimento. Observamos como os profissionais em suas ações cotidianas têm descrito, falado e construído sentidos para soropositividade feminina e seu atendimento a partir dos conceitos teóricos difundidos pela epidemiologia. Estes repertórios foram denominados como: (1) Duas mulheres: vítimas e culpadas, (2) Mulheres irresponsáveis, (3) Mulheres que tem dificuldade de negociar o preservativo e (4) Mulheres que vivem num contexto vulnerável. Podemos dizer que quando estes profissionais conversam sobre a soropositividade feminina, o discurso da epidemiologia ultrapassa as questões de prevenção, indo até a vivência da doença e o atendimento oferecido. Cada discurso retomado para se falar de soropositividade feminina promove estratégias diferentes de assistência a essas mulheres. Ao mesmo tempo, percebe-se que essa prática não acompanha o movimento discursivo da epidemiologia e os debates gerais em saúde. Nota-se a dificuldade de reconhecer a situação de vulnerabilidade dessas mulheres a partir do uso de outros discursos, perpassados pelo conceito amplo de risco. Seu uso promove uma omissão da participação do homem quando se fala da soropositividade feminina e do atendimento que é oferecido. Quando há o reconhecimento deste contexto de vulnerabilidade, as falas dos profissionais não incluem o próprio serviço e as políticas de saúde que os orientam. Além disso, reconhecemos que esta é uma prática ainda marcada pelo modelo biomédico e pela especialização profissional. Foi possível uma reflexão crítica de como os conceitos da epidemiologia são incorporados e apropriados pelos profissionais de saúde especializados em HIV/aids e suas implicações para a prática assistencial.

ASSUNTO(S)

profissionais de saúde women discourse analysis psicologia aids (doença) health care professionals mulheres análise do discurso

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