Trabalho, sofrimento e patologias sociais : estudo com trabalhadores bancários e anistiados políticos de uma empresa pública

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Esta pesquisa investigou a influência da organização do trabalho nas vivências de sofrimento, estratégias de mediação e as patologias sociais de sobrecarga, violência e servidão voluntária, em bancários e trabalhadores anistiados políticos de uma empresa pública de comunicação. O referencial teórico é a psicodinâmica do trabalho e o enfoque psicossocial. Pretendemos caracte-rizar a organização do trabalho; identificar os sentimentos e estratégias defensivas utilizadas; e caracterizar a dinâmica da transformação das estratégias defensivas nas patologias sociais da sobrecarga no trabalho, violência e servidão voluntária. A metodologia utilizou entrevistas aber-tas e semi-estruturadas com quatro trabalhadores voluntários de cada categoria profissional, to-talizando oito participantes. Foram realizadas entrevistas individuais com os bancários e uma entrevista coletiva com os trabalhadores anistiados políticos. Os anistiados se reportaram às si-tuações vivenciadas na década de 80, quando a empresa de comunicação na qual trabalhavam era "comandada" por militares com um estilo de gestão percebido pelos entrevistados como bu-rocrático e autoritário, mas que já incorporava práticas recentes do modelo capitalista, como a terceirização. Nessa década, os trabalhadores anistiados foram discriminados e demitidos, tendo sido posteriormente reintegrados ao trabalho e indenizados, por via judicial. Os relatos dos ban-cários se referiram às situações vivenciadas nos últimos cinco anos. A empresa dos bancários entrevistados está inserida em um mercado competitivo e passou por sucessivas reestruturações produtivas, especialmente a partir de 1980. As entrevistas foram gravadas e submetidas à análi-se de conteúdo temática. Os resultados sinalizaram que a organização do trabalho para os dois grupos, de modo geral, foi caracterizada por: pressão para atingir metas, sobrecarga de trabalho, segregação de funcionários, humilhações, discriminações e violências psicológicas. Essas situa-ções geravam sentimentos que configuravam intenso sofrimento, mediado por estratégias defen-sivas que tendiam a ser coletivas para os trabalhadores anistiados e individuais para os bancá-rios. Diante das intensas vivências de sofrimento, no entanto, as estratégias utilizadas nos dois grupos em algumas situações entraram em processo de exaustão. Esse processo resultou em adoecimentos psicossomáticos e adoecimentos das situações de trabalho. Estes últimos aqui identificados como patologias sociais da sobrecarga, violência e servidão voluntária. Com base na discussão dos resultados, são propostos os conceitos de estratégias perversas da organiza-ção do trabalho e zelo perverso. O estudo possibilitou a caracterização da organização do traba-lho, sentimentos, estratégias defensivas e a configuração da dinâmica da transformação dessas estratégias em patologias sociais. A compreensão dessas patologias sociais é recente e está em fase de desenvolvimento. Isso acentua os desafios deste trabalho na tentativa de contribuir para a elaboração e amadurecimento desses conceitos.

ASSUNTO(S)

satisfação no trabalho psicologia trabalho - aspectos psicológicos

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