Transplante cardiaco pediatrico

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1995

RESUMO

A cirurgia cardíaca pediátrica apresentou grandes progressos nos últimos 50 anos. Um grande número de cardiopatias, congênitas ou adquiridas, podem ser corrigidas cirurgicamente, muitas delas, nos primeiros meses de vida. Outras, necessitam de alguma forma de tratamento paliativo antes da cirurgia corretiva. Porém, existe um grupo de cardiopatias onde o tratamento convencional não apresenta bons resultados. O tratamento deste grupo de crianças constitui o desafio dos que trabalham com transplante cardíaco pediátrico. O objetivo do presente trabalho é o de avaliar os problemas técnicos, as complicações pós-operatórias e os resultados do transplante cardíaco na população pediátrica. Para tanto, estudamos um grupo de 24 pacientes, operados entre 1985 e 1991, e com seguimento variando de sete meses a sete anos e dois meses. A idade dos pacientes variou de dois dias a 21 anos, com média de 10,5 anos. A patologia inicial era miocardiopatia em 12 pacientes, cardiopatia congênita em 11 e um paciente apresentava tumor cardíaco. Dois pacientes foram, posteriormente, submetidos a retransplante por falência do órgão transplantado. A espera pelo transplante variou de dois a 156 dias, com média de 37,3 dias. Seis transplantes foram realizados de maneira eletiva, 14 pacientes encontravam-se internados em unidades de terapia intensiva com suporte de drogas inotrópicas intravenosas e seis necessitaram de assistência circulatória mecânica externa. Várias modificações técnicas foram empregadas para abordar problemas anatõmicos nos pacientes portadores de cardiopatias congênitas complexas. Estas incluíram a correç~o de anomalias da drenagem venosa sistêmica, correção de anomalias causadas por cirurgias paliativas prévias e anomalias de posição e desenvolvimento dos grandes vasos da base. Os cuidados pós-operatórios envolveram um protocolo de imunossupressão baseado na associação de ciclosporina, azatioprina, corticóides (em baixas doses) e soro antilinfocitário, como terapêutica de indução. A mortalidade global foi de sete pacientes (29%), sendo cinco no período pós-operatório imediato e dois óbitos tardios. Dos óbitos pós-operatórios, três foram causados por falência de múltiplos órgãos e todos estes se encontravam sob suporte circulatório mecânico pré-operatório. Dos óbitos tardios, um foi por pancreatite e outro por infecção. O diagnóstico de rejeição aguda foi baseado em parâmetros clínicos e exames não-invasivos, recorrendo-se à biópsia endomiocárdica apenas excepcionalmente. A média de episódios de rejeição aguda foi de 1,8 episódios I paciente, sendo que 78% ocorreram durante os três primeiros meses após o transplante. A incidência total de infecção foi de 58,8% nos pacientes seguidos, sendo apenas dois casos considerados graves (8,3%). As complicações relacionadas à imunossupressão mais freqüentes foram as alterações da função renal (94%), o déficit de crescimento (88% das crianças abaixo de dez anos), a neutropenia (35%) e a hipertensão arterial (23%). A sobrevida global foi de 71 %, após um seguimento médio de 29 meses. Concluímos que o transplante cardíaco é uma alternativa terapêutica atraente, que compara favoravelmente com as outras formas de tratamento disponíveis, para crianças portadoras de cardiopatias graves em estádio terminal. A recuperação e reintegração familiar e social destas crianças nos encoraja a prosseguir nesta forma de tratamento.

ASSUNTO(S)

transplante cirurgia cardiaca

Documentos Relacionados